dezembro 05, 2009

A Hora e a Vez dos Fans

          Como a Cultura da Convergência mudou a atitude dos Consumidores Fruidores de Obras
         
           Lendo o livro “A Cultura da Convergência”, do Prof. Henry Jenkins, me lembrei do sentimento de impotência que costumava experimentar, quando em minha adolescência - e isso já faz um bom par de décadas, assistia a algum filme ou lia um romance e o final da história não era bem o que eu esperava. Mas eu não me dava por satisfeita e criava finais alternativos (mesmo que só na minha imaginação) para as histórias que assistia ou lia.
          Pierre Lévy escrevendo sobre Interatividade em Cibercultura (1999) diz que o receptor nunca é passivo, e eu, já nos idos anos 70 e 80, demonstrava minha interatividade com as histórias que lia ou assistia criando minhas próprias versões imaginárias. Essa interatividade, cada vez mais presente no que Jenkins chama de Cultura da Convergência, permite que o receptor se transforme em consumidor-fruidor, aquele que se apropria de uma obra, alterando sua narrativa, atribuindo-lhe características de acordo com suas experiências com o intuito de preencher lacunas (propositais) no enredo e obter uma compreensão total da história.
           Com o advento das mídias convergentes, os consumidores-fruidores avançaram ao nível de consumidores-fruidores-produtores. Segundo Jenkins "a convergência representa uma transformação cultural à medida em que os consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos", essa transformação cultural pode ser representada pelas brincadeiras, e trabalhos sérios, que os consumidores-fruidores-produtores disponibilizam na rede mundial de computadores.
Vejamos alguns exemplos:


         O filme, exclusivo para a net, The Hunt for Gollum (algo como “a caçada de Gollum”) foi criado por fãs da trilogia Senhor dos Anéis com um orçamento baixíssimo porém com ótima qualidade.
         Para quem conhece a história lembra que Gandalf deixou Frodo tomando conta do Anel logo depois de Bilbo ir embora. E depois voltou para começar a aventura toda. No primeiro filme, A Sociedade do Anel, essa ida-e-volta foi bem rapidinha… mas na historia do livro levou 12 anos … e durante esse tempo eles ficaram caçando Gollum para evitar que ele fosse pego por Sauron e deletasse que o Anel estava no condado … é justamente essa caçada que os fãs contam em The Hunt for Gollum. Se estiver interessado poderá assistir a versão legendada do filme aqui. Aproveite!

          Outro exemplo ( sugestão do professor Ricardo de Souza) da criatividade dos fruidores-produtores pode ser notado na produção dos fans de GLEE, uma comédia musical do canal de TV americano Fox. A série, lançada nos EUA em setembro deste ano já conta com  uma legião de fans - os Gleeks, que alçaram o show ao topo da lista das mais seguidas no Twitter, além de recriarem os números musicais da série com criatividade e bom humor postando-os no You Tube.
        Nem os próprios fruidores-produtores escapam à interatividade criativa do público da era da convergência. Um exemplo é o vídeo campeão de acessos no You Tube no início do ano David After Dentist.


       O video recebeu inúmeras e bem humoradas versões como:

        Encerro minhas considerações com as palavras do próprio Jenkins: "Bem-vindo à Cultura da Convergência, onde as velhas e novas mídias colidem, onde o público e as corporações da mídia cruzam-se, onde o poder dos produtores e dos consumidores da mída interagem em um caminho imprevisível. A cultura da convergência é o futuro, mas está sendo moldada no presente. Consumidores serão mais poderosos em uma cultura da convergência, mas somente se reconhecerem e usarem seu poder tanto como consumidores quanto como cidadãos, como participantes plenos de nossa cultura".





4 comentários:

  1. Oi Márcia,

    LOST é mesmo um seriado fascinante, como percebemos possui um conteúdo complementar que aprofunda a narrativa em outros meios como os livros, vídeos para celular, games e sites na internet sendo considerado uma narrativa transmidiática.
    E ainda LOST é dirigido para agradar um público muito amplo, pois deve atender ao mesmo tempo o telespectador casual, ou seja, um público que não acompanha os episódios com tanta sagacidade e o telespectador que deseja ir à fundo na trama e no mundo criado pelos autores da série e estes últimos assumem de maneira muito mais forte a posição de co-autores do conteúdo. Concorda!?

    Enfim, seu texto está muito bem articulado e ilustrado acerca do assunto, adorei aprender mais sobre a cultura da convergência pelo seu ponto de vista.

    Grande Abraço!

    Viviane

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  2. Não entendi por que a moça comentou sobre Lost aqui!
    Não entendo muito bem do assunto do post mas gosto d+ de Senhor dos Anéis. Matrix eu não entendi. Agora, os videos do you tube são fera!

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  3. Olá amiga,
    acho que é interessante que pessoas estejam se reunindo com objetivos comuns, só espero que não fique só na brincadeira, na condição de consumidores de franquias midiáticas, que as pessoas possam convergir para fins mais sérios, mas acho que isso tb tá acontecendo... É o nosso caso, nesse curso, não é mesmo? Formamos uma comunidade de inteligência em nome da educação.
    Valeu a postagem!

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  4. Oi Márcia,

    Gostei muito da sua introdução e eu também tinha a mesma inquietação, até que encontrei um livro que me ajudou um pouco nisso. Não me lembro nem a editora, mas qdo eu começava a ler o livro no final de cada página tinha duas opções de seguimento da narrativa, eu escolhia qual seria o próximo passo. E podia ler várias vezes o mesmo livro com desfechos diferentes. Muito bacana.

    Gostei muito do seu texto, e a conclusão é bem pertinente vc explicitar essa questão que a convergencia é o hoje e que não nos tornemos somente consumidores, mas també cidadão.

    Abraço.

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